[Imagens: Reprodução/HarperCollins]
Livro: A ilha das árvores perdidas (2022)
Autor: Elif Shafak
Tradução: Marina Vargas
Editora: HarperCollins Brasil
Em 1974, dois jovens de lados diferentes se apaixonam em meio à guerra. Seu amor proibido floresce e resiste nos encontros escondidos na taverna A Figueira Feliz, no centro de Nicósia, capital do Chipre. O país está partido pela guerra entre gregos e turcos pela dominação do território, e é neste cenário que Elif Shafak desenvolve a história de amor, perda e identidade de Kostas e Defne em A ilha das árvores perdidas, traduzido por Marina Vargas.
Ela, uma jovem turca e muçulmana, e ele, grego e cristão, não podem ficar juntos diante das origens étnicas e religiosas. Sua relação se torna cada vez mais perigosa com os ataques crescentes. No auge da guerra, Kostas é enviado para Londres pela mãe, perdendo o contato com Defne por décadas. Sem jamais esquecer dela, um dia retorna a Nicósia como botânico, no início dos anos 2000, encarando os escombros de tudo aquilo que um dia chamou de lar.
Lá, encontra Defne, agora uma arqueóloga que integra o Comitê de Pessoas Desaparecidas, projeto que realiza buscas e escavações por toda a região de Nicósia para encontrar e reconhecer corpos de vítimas da guerra. O trabalho a consumiu completamente, levando-a a ver de perto os horrores da guerra.
A história é narrada por Ada Kazantzakis, jovem de dezesseis anos, que, em meados dos anos 2010, perde a mãe, e pela figueira que atravessava o teto da taverna. Filha de Kostas e Defne, ela enfrenta o luto pela súbita morte da mãe, quando descobre a verdade, até então oculta, sobre o passado de seus pais: o casal migraram do Chipre fugindo das mazelas da guerra — uma a qual Defne jamais conseguiu se recuperar.
Com um foco no público acima de dezesseis anos que tenha interesse em narrativas mais literárias com gancho dramático, este livro aborda temáticas sensíveis de maneira assertiva em uma espécie de realismo mágico, além de abordar a forma como a migração transformou não apenas a vida de Defne e Kostas, mas a de Ada, que colheu muito do sofrimento ao qual seus pais foram infringidos. A autora, por escolher a figueira como a narradora do passado, faz uma analogia sobre como a natureza é resistente e se renova, porém que ela, assim como os humanos, tem memória e, consequentemente, sente dor.
A narrativa explora as facetas do luto, da perda e da identidade. A ilha das árvores perdidas monta um sensível relato narrado que passeia entre meados de 1970, 2000 e 2010, explorando o quão longínquo um trauma geracional pode ser, tocando até quem nunca pisou no cerne que causou tanta angústia.
Sobre a autora
Elif Shafak é uma escritora e ativista turco-britânica, autora de obras como A ilha das árvores perdidas, 10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho e O manuscrito. Ela é PhD em Ciência Política e foi professora no St Anne’s College e na Universidade Oxford, além de ser galardeada com a medalha Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres. Shafak é conhecida pelo seu trabalho de ativismo em prol dos direitos das mulheres e pela causa LGBTQIAPN+.
Por Yasmin Montebello, estudante da disciplina de Laboratório de Cidadania, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ministrada pela Profa Fernanda Paraguassu.
Sob supervisão de Fernanda Paraguassu.
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