Eu me chamo Feiruque de Jesus dos Santos, sou pesquisador mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Fronteira Sul (PPGE/UFFS). Investigo sobre a acolhida de crianças imigrantes na escola pública, na rede municipal de ensino da cidade de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina.

A maioria das famílias de imigrantes e refugiados que chegam a São Miguel do Oeste são para trabalhar nos frigoríficos e na construção civil. Ao chegar na cidade muitos desses imigrantes são acolhidos pela Pastoral do Migrante e outras entidades da sociedade civil, que os auxiliam com sua inserção na comunidade miguel-oestina, através de auxílio com a regularização de documentos, campanhas para arrecadação de itens básicos e moradia. O município também conta com uma Comissão Permanente para Análise e Acompanhamento da Migração, que tem como um dos seus objetivos propor políticas públicas específicas para essa população.

Apesar de São Miguel do Oeste contar com equipamentos no âmbito jurídico de inserção da população de imigrantes na comunidade local, na prática ainda há muito o que ser feito. A acolhida da população migrante vai muito além da letra da lei, mas requer um olhar holístico para a presença de pessoas refugiadas no município, precisamos olhar para a forma como nos relacionamos com esses sujeitos, suas histórias pessoais e coletivas, seus projetos de vida, seus saberes e sua cultura. Outro desafio, está na ausência de produções acadêmicas sobre esses fluxos migratórios na região, sobretudo, no campo da formação inicial e continuada de professores, foco da minha pesquisa. A ausência desse debate nos espaços de formação inicial e continuada de professores cria um lugar de apagamento do fenômeno migratório na cidade, levando esses sujeitos a transitarem entre o silenciamento e a violação dos seus direitos. Muitas crianças encontram dificuldades de se sentir integradas ao novo espaço, ora por conta das barreiras impostas pela língua, ora por questões culturais e étnico-raciais que se desdobram no dia a dia.

Por outro lado, a pesquisa com crianças em situação de refúgio coloca em destaque o tema da acolhida dessa população pela escola. A proposta da pesquisa foi muito bem recebida pela Secretaria Municipal de Educação de São Miguel do Oeste, que desde o início prestou todo o apoio para a realização da coleta de dados; além disso, há um amplo interesse dos professores, gestores e coordenadores pedagógicos no tema. A produção de estudos sobre o tema lança luzes sobre as especificidades da imigração, sobretudo, em municípios interioranos como é o caso de São Miguel do Oeste.

Em muitos casos, o preconceito, os estereótipos, o embate em sala de aula e o silenciamento do fenômeno migratório são resultado do desconhecimento sobre o tema. Portanto, propor a discussão e a reflexão sobre o fenômeno migratório é a saída para criarmos estratégias de acolhimento e promoção da humanidade das crianças em situação de refúgio.

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