Na estante

Livros

Dicas de livros para tratar do tema da migração e do refúgio em diferentes contextos com as crianças e os adolescentes. Mais do que aprender o conceito, os livros abrem espaço para despertar a curiosidade pelo desconhecido e para o diálogo sobre o respeito pelo diferente. 

Esta lista está sendo construída aos poucos, porque fazemos questão de ler cada livro antes de sugerir aqui. Fique à vontade para escrever para a gente e fazer a sua sugestão. Envie um texto assinado de até dez linhas com a sua análise da história. (contato@mireplataforma.com.br)

A memória do mar
Khaled Hosseini
Ilustração: Dan Williams
Tradução de Pedro Bial
Editora Globo

Numa praia em uma noite estrelada, um pai compartilha com o filho lembranças da Síria e sua infância, um país encantador que foi destruído pela guerra, obrigando não apenas aquela família, mas muitas outras a embarcar rumo a terras desconhecidas. O caminho se dá pelo mar grande e indiferente, que deixa o pai do menino Marwan se sentindo impotente para protegê-lo.

As ilustrações de pintura em aquarela ajudam a dar leveza a uma história recheada de emoção. Retratam lindamente o ambiente da cidade síria cheia de vida que ficou na lembrança daquele pai e depois a angústia da fuga pelo mar.

Esse livro, do mesmo autor de O caçador de pipas, é inspirado na história do menino Alan Kurdi, o refugiado de três anos de idade que emocionou o mundo depois de ter se afogado no mar Mediterrâneo quando tentava chegar à Europa em segurança. Em A memória do mar, o romancista Khaled Hosseini deixa para o leitor imaginar um outro final à história de Marwan. Parte dos recursos angariados com a venda do livro será revertida para a Fundação Khaled Hosseini e para a Agência de Refugiados das Nações Unidas (Acnur).

A menina que abraça o vento – a história de uma refugiada congolesa
Fernanda Paraguassu
Ilustração: Suryara Bernardi
Editora Voo

Com uma narrativa doce e leve, o livro conta a história da congolesa Mersene, uma garotinha que teve que se separar de parte da família para fugir do conflito em seu país. Enquanto se adapta à nova vida no Brasil, ela cria uma brincadeira para driblar a saudade.

Baseado em histórias reais de diversas meninas congolesas refugiadas na cidade do Rio de Janeiro, o livro explica o termo do refúgio, enquanto apresenta a República Democrática do Congo, alguns aspectos da cultura daquele país e a nova rotina da menina no Brasil. Ora Mersene traz características diferentes, como o idioma, ora é retratada como uma menina igual às outras, que tem hora para dormir, para brincar e para estudar.

As ilustrações grandes e coloridas compõem o texto com novos elementos, como o objeto que acompanha a menina pela jornada e a porta aberta que, no início, a protege dos problemas do lado de fora e, ao final, se abre para novas oportunidades. Com um desfecho em aberto, a história deixa no ar a esperança de uma vida melhor.

O livro faz parte do projeto de contrapartida social Um por Um da Editora Voo. Parte dos recursos da venda do livro é destinada ao Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas RJ. O livro foi traduzido para o inglês e o francês. 

A guerra 
José Jorge Letria
Ilustração: André Letria
Amelì Editora
Coleção da Cigarra

É um livro diferente, com uma narrativa poética sobre a guerra. São poucas linhas por página, algumas apenas com imagens, em duplas, paleta de cores sempre em tons escuros como preto, cinza e marrom. Tudo junto leva a uma reflexão sobre uma guerra que não tem rosto, não tem tempo nem lugar. Nesse livro, parceria de pai e filho, a guerra é personificada em animais peçonhentos, os medos humanos. A publicação original é portuguesa, mas já foi traduzida para diversos idiomas, com oito prêmios internacionais. O tratamento cuidadoso da Amelì faz desse livro uma obra de arte destinada a um público de todas as idades, instigando a reflexão sobre um assunto que persiste em seguir atual. 

Todo mundo é misturado
Beth Cardoso
Editora: Escarlate

A história sobre migração escrita por Beth Cardoso contribui para refletir sobre o que pode acontecer quando a escola não está preparada para acolher quem vem de outro país. Pablo é um menino que vem da Bolívia. Ele conhece Júlia, uma menina curiosa, que tenta ajudar o novo amigo a se integrar na turma. Mas uma série de mal entendidos e a má vontade de um grupo de colegas gera momentos de tensão. Ao longo da história, a autora apresenta palavras em espanhol e descreve episódios do encontro de culturas que podem ser o ponto de partida para um rico debate em sala de aula. O livro tem 105 páginas, com texto leve, traz informações sobre a cultura da Bolívia e pode ser muito bem usado pelo Ensino Fundamental 2. 

Dois meninos de Kakuma
Marie Ange Bordas – texto, fotografias e foto ilustrações
Editora Pulo do Gato

Geedi e Deng são amigos inseparáveis. Companheiros de vida, de sonhos, mas também de inquietações e dúvidas sobre o futuro. Os dois vivem em Kakuma, um dos maiores campos de refugiados do mundo, localizado no Quênia.

Nesse livro, as histórias são narradas em primeira pessoa pelos meninos. São histórias de ficção baseadas na convivência da autora com crianças e jovens em Kakuma. No texto, passagens sobre a fuga da guerra, os dias difíceis no campo de refugiados e a tentativa de levar uma vida “normal”, estudando e brincando.

São crianças com passados diferentes, que compartilham o mesmo presente e inseguranças em relação ao futuro. O livro traz ainda lindas fotos em preto e branco de Kakuma e seus moradores, além de foto ilustrações e informações sobre os deslocados no mundo, sites para saber mais sobre o tema, e dados sobre o campo queniano, criado em 1992 para acolher milhares de refugiados da guerra civil do Sudão.

Malala e seu lápis mágico
Malala Yousafzai
Ilustrações: Kerascoët
Editora: Companhia das Letrinhas

A história real da menina paquistanesa Malala, em versão infantil, trata da superação de obstáculos e da força interior para mudar o mundo a partir do desejo de ter um lápis mágico para apagar a guerra e desenhar meninos e meninas com direitos iguais. Com frases curtas, a história narrada em primeira pessoa trata da rotina da menina no Paquistão até a chegada de homens poderosos e perigosos que proibiram as meninas de ir à escola. 

Malala decide então escrever sobre o medo de ir à escola e dar entrevistas para jornais estrangeiros. A menina diz que tentaram silenciar sua voz, sem falar explicitamente do atentado a tiros que quase a matou, porque ela quer ficar conhecida como a menina que trabalha todos os dias para transformar em realidade o sonho de tornar o mundo um lugar mais pacífico.

Em uma carta, Malala convida o(a) leitor(a) a se inspirar em sua história para encontrar magia na própria vida e defender aquilo em que acredita. Na versão infantil, a menção direta ao ataque do Talibã se dá apenas no trecho sobre a autora.

Malala: A menina que queria ir para a escola
Adriana Carranca
Ilustradora: Bruna Assis Brasil
Editora: Companhia das Letrinhas

Nesta versão da história de Malala, a jornalista Adriana Carranca, que visitou o vale do Swat dias depois do atentado e hospedou-se com uma família local, conta tudo o que viu e aprendeu por lá num livro-reportagem. Adriana conversa com o leitor e explica em caixas de texto expressões que podem ser desconhecidas do público mais jovem. As ilustrações tornam a leitura de 96 páginas ainda mais interessante. O livro de Adriana foi vencedor do Prêmio FNLIJ, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil nas categorias Escritora Revelação e Livro Informativo, e ganhou adaptação para o palco em 2019, com canções originais de Adriana Calcanhoto. 

 

Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã
Malala Yousafzai e Christina Lamb
Editora: Companhia das Letras

Na versão juvenil, em que Malala assina o texto em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, o tiro à queima-roupa e a recuperação milagrosa da garota fazem parte da história da família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que privilegia filhos homens. A autobiografia de Malala escrita especialmente para o público juvenil tem 216 páginas e é indicada para leitores acima de 12 anos de idade. 

Layla: a menina síria
Cassiana Pizaia, Rima Awada Zahra, Rosi Vilas Boas
Ilustração: Veridiana Scarpelli
Editora do Brasil

O livro conta a história de Layla, uma menina que veio de Alepo, no norte da Síria. Ela e sua família tiveram que deixar o país por causa da guerra e foram obrigadas a procurar um lugar seguro para viver. Ao longo do livro, Layla conta histórias do período conturbado que viveu antes de finalmente chegar ao Brasil. Através de sua sensível narração, o leitor entra em contato com um mundo diferente, com outros cheiros, sabores, cores e dores. Como será ficar longe de tudo e todos que conhecemos, viver com tantas lembranças tristes, ter que recomeçar do zero? Para contar essa história, as autoras fizeram uma pesquisa detalhada sobre a cultura e a história da Síria e conversaram com homens, mulheres e crianças que fizeram a travessia para o Brasil. Com 88 páginas, o livro é indicado para leitores a partir de 11 anos de idade. A história está disponível em audiolivro, com narração bem legal da Luísa Vioti. 

O Haiti de Jean 
Cassiana Pizaia, Rima Awada Zahra, Rosi Vilas Boas
Ilustração: Angelo Abu
Editora do Brasil

Era 12 de janeiro de 2010 quando Jean sentiu tudo tremer à sua volta. Na pequena vendinha de seus pais, o menino viu tudo começar a desabar e ouviu sua mãe gritar seu nome. Os momentos, dias e meses seguintes foram marcados pela busca pela sobrevivência, e também pela decisão de deixar seu país de origem para viver no Brasil.

O livro, baseado na tragédia que acometeu o país caribenho, traz a história com a riqueza de detalhes observados pelos olhos de uma criança. Jean é um protagonista sensível e sensato, que entende os privilégios que têm (pais, comida na mesa, teto sobre a cabeça e escola) no país considerado o mais pobre do mundo. Um menino que gosta de futebol, de ir à escola e de entender as coisas.

Como quem conversa com o leitor, Jean conta curiosidades geográficas sobre o Haiti, as belezas naturais, as ações que levaram o país à extrema pobreza e que dizimaram a natureza. O protagonista também fala sobre a saudade dos amigos e parentes que não resistiram ao terremoto, a dificuldade em fazer amigos novos sem falar a mesma língua e situações de racismo em sua nova casa, o Brasil. Com 120 páginas, o livro é indicado para leitores a partir de 11 anos e está disponível em audiolivro. 

Malaika, força do Congo
Cassiana Pizaia, Rima Awada Zahra, Rosi Vilas Boas
Ilustração: Raemi
Editora do Brasil

O livro conta a história de uma menina que nasceu na República Democrática do Congo, país da África, que passa por conflitos, sofre desigualdades e influência de países colonizadores. Guerrilhas e violência tornam o país instável e forçam milhares de pessoas a deixarem seus lares, incluindo Malaika e sua família. A jornada da menina é cheia de percalços e luta, mas também de esperança. É um livro com bastante texto, indicado para leitores do Ensino Fundamental II, 7o. ano. Tem 128 páginas e foi classificado como literatura juvenil. A narrativa flui, com detalhes sobre a região e expressões em swahili, despertando para aspectos culturais daquele país.  

A língua de todos e a língua de cada um
Jorgelina Tallei, Renata Alves de Oliveira
Ilustração: Laura Zanon Irineu
Pipa Comunicação

Como assim um livro em portunhol? Em “A língua de todos e a língua de cada um”, as autoras tiveram a ideia de contar assim a história de Nina, uma menina que chega na nova escola e não consegue falar a língua de todos. Como resultado, ela acaba ficando em silêncio. De uma maneira sensível e delicada, faz lembrar o silêncio dos poliglotas a que se refere a filósofa búlgaro-francesa Julia Kristeva. O livro trata de linguagem, pessoas, diferenças e diversidade. Tudo isso tem a língua como ponto de partida. Jorgelina Tallei é professora, meio argentina meio brasileira. Renata Alves de Oliveira estuda a infância e suas linguagens. O texto das duas harmoniza com as imagens criadas por Laura Zanon, que busca acolher a criança migrante em toda a sua diversidade.