Um lugar de vida precária, em que surgem novas formas elementares de fronteiras de lugares, de tempo e de experiência no mundo social. Construído para ser provisório, torna-se permanente. O antropólogo francês Michel Agier, que pesquisou campos de refugiados na África, afirma que é ali o espaço onde uma vida inteira é organizada, marcado pela incerteza do momento e do futuro imediato, em que são delimitados um “eu” e um “outro”.
A vida é precária e os indivíduos acabam se acostumando a isso. O local confinado do indesejado, mantido à parte e bem longe dos olhos da sociedade, é transformado em “um espaço intermediário no qual é possível viver, mas de onde é difícil sair”, declara Agier, no livro Managing de Undesirables: Refugee Camps and Humanitarian Government.
O maior campo de refugiados do mundo atualmente é o de Cox’s Bazar, localizado em Bangladesh, onde há meio milhão de crianças sem comida e escola. São refugiados rohingyas, membros de uma minoria religiosa muçulmana que fugiram de Mianmar e vivem em cabanas de bambu com coberturas de lona. A ONU chegou a considerar a situação ali uma “catástrofe de direitos humanos”.
Outros campos que estão entre os maiores do mundo são Dadaab, construído no início da década de 1990, e Kakuma, no Quênia, um dos países que mais acolhe refugiados da África, sendo a maioria da Somália, do Sudão do Sul, da República Democrática do Congo e da Etiópia. Há ainda Bentiu, em Sudão do Sul, e Zaatari, na Jordânia, que recebeu muitos refugiados com a guerra na Síria.
Entre maio e setembro deste ano, mais de 1.200 refugiados sudaneses com menos de cinco anos de idade morreram em nove campos no Sudão, onde o conflito entrou no quinto e sobrecarregou as instalações de saúde por conta da escassez de pessoal, de remédios e equipamentos. A maioria das mortes estavam ligadas a suspeitas de sarampo e malnutrição, de acordo com denúncia da ONU. São crianças da Etiópia e do Sudão do Sul.
Diante da situação de permanente catástrofe e emergência interminável, a ação humanitária parece ser cada vez mais uma resposta imprescindível. Nesse sentido, surgem iniciativas como a Organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras (FSF) que realiza projetos em campo de refugiados para promover atendimentos de saúde, atividades de pedagogia, recreativas e culturais.
Marco Braga embarcou numa caravana da FSF para o campo em Dzaleka, criado em 1994 no Malawi, na África Oriental, para abrigar refugiados da República Democrática do Congo, do Burundi, da Ruanda, da Somália e da Etiópia. Em Dzaleka, chegam 300 pessoas por mês, em média. Construído para abrigar 10 mil pessoas, já tem mais de 50 mil.
De acordo com o Acnur, em 2021, 45% das pessoas ali eram mulheres, 48% eram crianças. A experiência do Marco Braga (que registrou a foto dessa linda menina) está num texto fantástico que ele escreveu especialmente para MiRe e você pode ler aqui.
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