Papo sério

Fome e deslocamento forçado: o Brasil na luta pela segurança alimentar

por | 13 maio, 2025 | comportamento e saúde, papo sério

A fome continua sendo um dos principais fatores que impulsionam o deslocamento forçado de populações pelo mundo. Conflitos, questões econômicas e crises climáticas intensificam esse cenário, levando milhões de pessoas a buscar melhores condições de vida em outros países. O Brasil tem se tornado um destino frequente para migrantes que enfrentam a escassez de alimentos em suas regiões de origem, mas a chegada ao território nacional nem sempre significa o fim das dificuldades.

Segundo a ONU, a fome tem levado migrantes a enfrentarem jornadas extremamente perigosas, como a travessia da Selva de Darién, que liga a América do Sul à América Central. Esse caminho, que deveria ser uma passagem para uma nova vida, muitas vezes se transforma em um pesadelo, com riscos de violência, exploração e morte. 

A insegurança alimentar e a desnutrição devem se agravar nos próximos anos, incentivadas pela combinação de fatores citados anteriormente. Conforme o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI), ”Em termos populacionais, estima-se que entre 713 e 757 milhões de pessoas (8,9 e 9,4% da população global, respectivamente) estejam subnutridas em 2023. Considerando a estimativa intermediária (733 milhões), cerca de 152 milhões de pessoas a mais podem ter enfrentado a fome em 2023 em comparação com 2019”. 

Esse relatório foi realizado em conjunto por cinco agências especializadas das Nações Unidas, entre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e procura analisar e monitorar a erradicação da fome ao redor do mundo, bem como o alcance da segurança alimentar e a melhoria na nutrição da população mundial. 

De acordo com o SOFI, a América Latina e Caribe têm 6,2% da população enfrentando a fome. Apesar do número avassalador, a América Latina tem sido referência na redução da fome, e o Brasil, especificamente, tem sido mais procurado por migrantes da Venezuela e Colômbia, que buscam fugir da desnutrição e buscar uma vida com segurança alimentar e acesso a alimentos de qualidade.

Em 2023,  o UNICEF identificou nos abrigos e assentamentos informais de Roraima, 1.256 crianças de 6 a 59 meses com algum nível de desnutrição aguda. Elizabeth Lefébre, uma menina venezuelana de 7 anos, migrou para o Brasil em 2024, buscando condições melhores para si e para sua família. A jovem nasceu com microcefalia, e em El Dorado, sua cidade natal, não tinha uma alimentação adequada e que fosse suficiente para lhe manter saudável e nutrida, assim como seu irmão de 12 anos, e seus pais. 

Ao chegar no país, todos os integrantes da família de Elizabeth foram recebidos pela Operação Acolhida, uma iniciativa do Governo Federal, voltada para o acolhimento e realocação de refugiados e migrantes venezuelanos. A pequena venezuelana foi diagnosticada com desnutrição, e iniciou um tratamento, voltado especialmente para suas necessidades. Rapidamente a suplementação alimentar surtiu efeito, e a mãe da pequena Eliza conta que “com o seu tratamento e sua alimentação, que hoje se adequa ao que o corpo dela precisa, Eliza tem dormido muito bem. Ela acorda e vai dormir sorrindo, é muito mais ativa do que antes”.

Foto: Katarine Almeida / UNICEF Brasil

O combate à fome e a garantia de direitos para refugiados e migrantes exigem uma ação conjunta entre governos, organizações internacionais e a sociedade civil. Medidas como ampliação de programas de assistência alimentar, inclusão no mercado de trabalho e facilitação da regularização migratória são fundamentais para que essas pessoas possam reconstruir suas vidas com dignidade.

Foto em destaque: Alécio Cézar / UNICEF Brasil


Por Erika Nascimento e Laura Alexandre (Alunas de Laboratório de Cidadania da Escola de Comunicação da UFRJ, sob supervisão de Fernanda Paraguassu)

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