Papo sério

Flee: Uma representação dos ecos que o refúgio traz ao longo de toda uma vida

por | 2 nov, 2024 | cultura e esporte, papo sério

Qual o peso que um refugiado carrega mesmo após conseguir sair da condição de refugiado? Esse talvez seja essa uma das maiores reflexões que encontramos no filme Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar, do diretor dinamarquês Jonas Poher Rasmussen.

Nessa animação, o público conhece a história de Amin Nawabi, um homem gay, bem-sucedido profissionalmente, que está prestes a se casar. Ele decide, pela primeira vez, se abrir sobre seu passado e contar sua história, como um menino afegão que foi forçado a deixar seu país nos anos 1990 em meio aos conflitos da guerra civil e ao desaparecimento do seu pai. Ele e sua família fogem para a Rússia pós-soviética com o objetivo de migrar, com muita dificuldade, para a Europa. 

O filme tem várias camadas. A começar pela escolha da animação como narrativa. Esse recurso é usado não só para dar vida à história de Amin, o que não aconteceria com tanta emoção se fossem usados somente relatos falados e fotos, mas também como forma de dar a delicadeza necessária para tratar dos traumas que o refúgio deixa na vida de alguém. 

Outro ponto interessante é a maneira como o filme aborda a condição de refugiado, não limitando o personagem somente a isso. No filme, é possível conhecer Amin como uma pessoa. Descobrimos como foi para ele crescer uma criança homossexual no Afeganistão; a descoberta da sexualidade; e acompanhamos todos os seus receios e amadurecimentos como uma pessoa LGBT.

A relação do personagem com sua família é um dos pontos centrais da trama. No filme vemos como a condição de refúgio fez com que Amin por anos tivesse somente a sua mãe e irmãos como figuras em sua vida. Isso trouxe algumas consequências, como o medo da rejeição por conta da sua sexualidade e a autocobrança na vida profissional.

Na trajetória de Amin, vemos como foi difícil para sua mãe e irmão financiar a sua ida até a Europa. Por isso, ele carrega dentro de si toda a responsabilidade de dar orgulho à família. Coisa que ele realmente consegue, tornando-se um grande profissional reconhecido internacionalmente.

E o peso de ser um refugiado não se limitou à pressão que Amin colocava em si pelo sucesso profissional. O filme também explica como foi doloroso para ele ter que esconder sua história por tantos anos com medo de ser deportado. Para todos os seus conhecidos da Europa, ele era órfão e não tinha nenhuma família.

Por isso, quando ele finalmente se abre, neste documentário, podemos conhecer verdadeiramente Amin Nawabi. Uma visão muito humanizada dessa pessoa que um dia foi um refugiado, que explica também como o refúgio pode afetar as pessoas em esferas que nem sequer se pode imaginar. 


Por Gabriel Iquegami, estudante da disciplina de Laboratório de Cidadania, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ministrada pela Profa Fernanda Paraguassu.

Sob supervisão de Fernanda Paraguassu. 

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