O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) fez três filmes curtos de animação sobre crianças refugiadas, que compõem a série Unfairy Tales (Contos desencantados ou Contos que não são de fadas). A ideia é sensibilizar sobre os impactos da guerra a partir de histórias contadas pelas próprias crianças. Ao fim de cada filme, o Unicef apresenta a mensagem “Algumas histórias não deveriam ser contadas por crianças” e convocam para campanha da ação e doação com a hashtag #actofhumanity.
Malak e o barco conta a viagem da menina Malak, de sete anos, pelo mar, a bordo de um barco furado.
Ivine e o travesseiro trata da história da adolescente Ivine, de 14 anos. Depois de uma fuga perigosa da Síria, Ivine vai para um campo de refugiados na Alemanha, onde enfrenta novos desafios.
Mustafá vai para uma caminhada é sobre a história do menino Mustafá, de 13 anos, que depois de deixar sua casa e seus brinquedos em direção a um abrigo de refugiados, fica imaginando quem sobrou para ser seu amigo.
As nadadoras é baseado na história real das jovens refugiadas sírias Yusra e Sara Mardini. O filme mostra a trajetória das irmãs desde a saída da Síria para fugir da guerra, os desafios da travessia em mar aberto, até a preparação e participação de Yusra nos Jogos Olímpicos Rio 2016, quando a jovem atleta de natação integrou a primeira equipe de refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI). O processo de Yusra de treinar para a competição e aceitar competir sem a bandeira de seu país, encarando o preconceito de outros atletas, é mostrado de forma a ressaltar que o processo de inclusão na sociedade receptora não é uma conquista fácil, ao mesmo tempo em que a força do esporte pode ajudar a mudar vidas. Classificado para acima de 14 anos de idade no Netlflix.
O libanês Cafarnaum começa com um garoto de uns 12 anos de idade sentado num tribunal falando diretamente com um juiz porque cometeu um crime. Depois de preso, o menino Zain pretende processar os pais por negligência. É ele quem cuida dos irmãos porque os pais estão sempre ausentes. Quando sua irmã de onze anos é forçada a se casar com um homem mais velho, Zain fica transtornado e deixa a família, passando a viver nas ruas com outros refugiados. O ator principal é sensacional. O pequeno Zain Al Rafeea, nascido na Síria, é um ator de primeiro time e consegue emocionar. O filme não é recomendado para menores de 14 anos.
A chance de Fahim é uma lindeza de filme, também baseado em fatos reais. Traz todos os elementos de quem estuda a migração transnacional. Tem a ruptura de laços afetivos do núcleo familiar, o encontro com o outro idioma, o estranhamento na escola, a criança que se torna o intérprete do adulto para assuntos importantes. E ainda deixa para reflexão a questão de ser aceito por se tornar alguém de destaque, enquanto o coletivo segue na invisibilidade. A história do menino campão de xadrez que deixa os conflitos em Bangladesh com o pai e se torna um refugiado na França equilibra sensibilidade e indignação com o sistema burocrático e político na medida para emocionar e criar empatia. Gerard Depardieu é o professor que ajuda o menino a se tornar campeão. Não recomendado para menores de 10 anos.
A boa mentira é um filme indo-queniano-estadunidense. Foi gravado tanto em Atlanta, nos Estados Unidos, como na África do Sul. Baseado em fatos reais, narra a vida de quatro irmãos do Sudão, refugiados da guerra civil. Depois de uma longa jornada pelo interior da África, com imagens incríveis do drama do percurso, os jovens chegam a um campo de refugiados em Kakuma, no Quênia, onde ficam por mais de 13 anos, quando embarcam para os Estados Unidos. Lá são recebidos pela personagem de Reese Witherspoon, que ajuda os garotos a se adaptarem à nova vida. De início, a mulher solteira, prática e bem resolvida parece estranha para eles. Mas, aos poucos, tornam-se amigos e mudam a maneira de olhar o mundo. O filme foi indicado para maiores de 10 anos, mas sugerimos que avaliem porque há cenas muito fortes logo no início. Talvez 14 anos.
O documentário Nascido em Gaza mostra como a violência afetou a vida de crianças palestinas após os ataques de 2014. Filmado pelo cineasta ítalo-argentino Hernán Zin, o documentário ganhou o Prêmio Goya, o mais importante do cinema espanhol. Também conquistou o primeiro lugar no Festival Internacional de Documentários Al Jazeera. Os depoimentos de dez crianças deixam evidente a vida sob tensão e os traumas da guerra. Cenas em câmera lenta dão tempo para o espectador processar e refletir sobre o que está assistindo. O filme é em árabe com legendas em espanhol.
Impactante. Um filme que prende na cadeira do cinema. A trama protagonizada pelos jovens senegaleses – Seydon e Moussa – nos alerta para as armadilhas existentes nos fluxos migratórios, mas, de modo muito sensível e peculiar, envolve os telespectadores nas histórias de pessoas que se arriscam, em prol de uma vida, que julgam ser melhor.
O êxodo de Dakar, no Senegal, é o centro de uma história que conjuga cenas fortes de drama e sofrimento, com episódios delicados que retratam: sonhos, relação com a família, relação com a ancestralidade e o amor entre primos. Tudo envolto de bela paisagem, boa música e uma fotografia que fixa nossos olhos na tela.
A trama nos surpreende com a dura realidade da exploração que circunda todos os momentos da viagem, desde o embarque em Dakar, as aflições no deserto do Saara, a prisão e dificuldades na Líbia, até os desafios vividos na embarcação em alto mar. Adversidades que não impossibilitam nosso olhar para a sutileza e o caráter de um jovem forte e líder.
Io Capitão é um filme que não trata apenas das mazelas da migração africana, mas da força e esperança do seu povo. Indicado ao Oscar 2024 de melhor filme internacional, o drama é do italiano Matteo Garrone.
Vale a pena conferir …
(por Viviane Penso, Doutora em Educação / TAE-UFRJ / Orientadora Pedagógica – SMEDC / apaixonada pelo tema da migração)
Lion: Uma jornada para casa retrata a história real de Saroo, um jovem menino indiano que se perde de seu irmão em uma estação de trem e acaba indo parar do outro lado do país. Sem conseguir se comunicar ou indicar de onde veio, o menino vai para um orfanato até ser adotado por uma família australiana. Na segunda parte do filme, Saroo aparece já na fase adulta vivendo uma vida relativamente confortável ao lado de sua família adotiva, mas começa a se questionar a respeito de suas origens. A partir daí, Saroo dá início a uma busca incessante para encontrar sua vila e sua família biológica. Além da adoção e imigração, o filme trata sobre outras questões, como as duras realidades socioeconômicas da Índia. Por Gabriel Nascimento, Letícia Moser e Suelen Oliveira.