Imagem: Victor Curi – Abraço Cultural | Divulgação
De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), em 2023, 44,3% dos pedidos de refúgio no Brasil foram de crianças e adolescentes com até 18 anos. O acolhimento desses alunos é essencial para evitar a evasão escolar e, por isso, a professora de idiomas Maryony Gomez defende que: “Um professor consegue mudar algumas vidas”. Ela, que também é uma migrante, vinda de San Cristóbal na Venezuela, atualmente é especialista no desenvolvimento de materiais pedagógicos para alunos refugiados. Para Maryony, relacionar a cultura do país de origem com o ensino de uma nova língua é o segredo para um bom desenvolvimento acadêmico.
Formada em Letras-Inglês no Brasil e em Direito na Venezuela, hoje, Maryony Gomez integra a equipe do Abraço Cultural, um curso de idiomas voltado para refugiados. Foi durante sua atuação nessa equipe que ela notou a ausência de um material didático realmente adequado às necessidades do projeto e, então, se voluntariou para modificar o conteúdo de língua inglesa. Assim, se especializou na área e já reformulou grande parte dos materiais utilizados em sala de aula, incluindo questões socioculturais relacionadas à imigração.
“Às vezes, acho que os professores que ensinam lá não sabem se ensinamos línguas através da cultura ou a cultura através das línguas. Mas, seja o que for, os materiais estão ali para isso. Eles estão cheios e repletos de questões culturais, onde o aluno vai aprender muito além da língua.”, disse Maryony sobre o impacto dos novos recursos para a equipe. Repleto de referências aos países do sul global, presentes na América Latina, Ásia e África, o conteúdo se diferencia por colocar em foco a história e a cultura de países marginalizados.
Maryony Gomez explica que trazer um olhar mais humano para os alunos é o primeiro passo em uma jornada de acolhimento: “Olhar além do aluno para o ser humano que temos ali, entender que ele vem de lugares diferentes, entender como eu posso pegar essas diferenças e incluí-las na minha aula para integrar esse aluno.” O professor precisa compreender alguns fatores que afetam aquele estudante, desde a saudade de casa até o estranhamento em lidar com uma nova língua e ela reforça que ter contato com a família desse aluno é essencial para ajudar nesse processo de adaptação.
Maryony também apresentou algumas dicas mais práticas de acolhimento de alunos refugiados, que englobam desde pesquisar sobre a cultura daquele jovem até preparar dinâmicas que incluam o idioma dele na sala de aula.
Elaboramos um guia de abordagem intercultural para professores que acolhem refugiados em sala de aula. O material é um compilado de todas essas orientações para facilitar uma boa relação entre o aluno e a escola.
Por Beatriz Costa, Julia Sirena e Miguel Roberto (alunos da Escola de Comunicação da UFRJ, sob supervisão de Fernanda Paraguassu)
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